RESENHA: Triste fim de Policarpo Quaresma



Infelizmente a leitura desse clássico nacional foi decepcionante. 

O livro dá a sensação que vai deslanchar a qualquer momento, que o enredo irá te captar de tal forma que deixará a leitura irresistível, porém esse esperado apogeu jamais ocorre. 


A frustração é maior porque as primeiras páginas dão indícios de que o que se tem em mãos será um grande deleite literário. 


Uma ótima premissa e um ótimo personagem.


Mas a narrativa insossa de Lima Barreto acaba prejudicando em muito o envolvimento com a obra. 


É falto de qualquer inspiração o ato de transpor no papel suas brilhantes ideias, narra como se estivesse redigindo uma redação escolar sobre um tema qualquer na última aula do dia. Não há uma observação espirituosa, uma ilustração vivaz sobre determinado acontecimento, uma metáfora impactante, uma descrição sofisticada em termos ou em aparência. 


Tal opacidade de estilo proporciona a experiência inusitada, e desagradável, de se ler um relato enfadonho de um tipo interessantíssimo que merecia uma narração mais empolgante, mais engajada.


A falta de profundidade dos personagens secundários é outro componente que prejudica a qualidade do trabalho ficcional. 


Embora se possa compreender que a intenção do autor seja justamente de escancarar à falta de brilho intelectual do meio que oprimi o brilhantismo, o ardor entusiasmante de Policarpo, a ausência de uma figura antagônica que se destacasse por suas falhas sobejas quase transforma o livro em uma dissertação monotemática excessiva sobre um tipo que, por mais exótico que seja, não necessita de tamanha exposição.


Usando um exemplo cinematográfico: é como assistir um filme que apresenta como única virtude a performance exuberante do ator principal que ofusca a má direção, o roteiro fraco e os coadjuvantes dispensáveis. 


Tinha potencial para mais.

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